O Desenho

O Desenho

header_o_desenho_site1

O desenho, por incrível que pareça, não existia antes da Renascença. Não que os artistas não desenhassem. É claro que desenhavam. Mas o desenho não existia como obra autônoma, como algo independente da pintura. O desenho era, então, só uma etapa a mais na realização de uma pintura, como preparar o painel de madeira que ia ser pintado, moer as tintas ou fabricar os próprios pincéis.

Era um “molde”, um “gabarito” do trabalho de pintura que ia ser executado depois. O desenho, antes da Renascença, era um desenho de contornos, simples figuras a serem preenchidas com cor. Durante a Alta Renascença, e principalmente a partir de Leonardo da Vinci (já que nisso ele teve papel fundamental), o desenho virou algo muito diferente.

Por que um traço nos dá uma sensação tão forte de movimento? É curioso, pois na verdade, no desenho, nada está se movendo. Todas as linhas, as marcas de carvão ou tinta estão ali quietas, paradas sobre a folha.

Com a música, ocorre algo semelhante. O que se ouve é uma nota, depois outra. Em nenhum instante nós ouvimos simultaneamente a melodia inteira. A melodia existe na memória do ouvinte. E essa melodia é muito mais que uma soma de notas, já que as mesmas notas, com duração diferente ou em outra ordem, constroem outra melodia, e passam a provocar uma sensação completamente diferente da melodia inicial. A música é construída dentro do ouvinte.

Algo semelhante acontece com o desenho. Ou melhor, exatamente o contrário, como uma imagem em um espelho. A música, que se desenvolve no tempo, traça um desenho (a melodia) no interior do ouvinte. O desenho, estático, se desdobra em ritmos e movimentos dentro do observador.

Que movimentos são esses?

untitled
Detalhe do estudo de Leonardo da Vinci para o túmulo Trivulzio (1508-12), Royal Library, Windsor.

No caso do desenho, e em especial em esboços como os desenhos de Leonardo Da Vinci, o movimento é o da sua própria criação. O desenho registra o gesto; ao olhar a imagem reconstruímos os gestos que a criaram e, para isso, basta olhar.

Mas, não é somente o gesto que está registrado no esboço. Neste, a mão e o pensamento andam juntos. No desenho vemos um emaranhado de braços e cabeças em diferentes posições. É como se estivéssemos olhando por cima do ombro de Leonardo enquanto ele desenha. Leonardo desenha e experimenta, muda os gestos e a inclinação da cabeça, pensa alternativas, descarta algumas e reforça outras, em uma velocidade enorme; um verdadeiro jorro criativo.

Voltemos à pergunta. Que movimentos, que ritmos são esses que o nosso olhar recria? É o pensamento em movimento, em processo, nessa fabulosa concordância entre intenção e gesto, materializado no papel.

Colaboração de Maurício de Toledo Piza Lopes.

Foto de Nosso Movimento

Nosso Movimento

Ver mais

Matérias relacionadas

Um Dia

Em 11 de junho, aniversaria Dr. Celso Charuri, idealizador e fundador da PRÓ-VIDA.

Três vezes grande

Houve aquele que abriu sua mente, conheceu a mente do universo e as três partes da filosofia do mundo.

Um Dia

Em 11 de junho, aniversaria Dr. Celso Charuri, idealizador e fundador da PRÓ-VIDA.

Três vezes grande

Houve aquele que abriu sua mente, conheceu a mente do universo e as três partes da filosofia do mundo.